A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) calcula que, todos os anos, um terço dos gêneros alimentares produzidos para consumo humano no planeta perde-se ou é desperdiçado ao longo da cadeia produtiva, ou seja, 1,3 bilhões de toneladas anuais que poderiam alimentar 3 bilhões de pessoas. O desperdício ocorre por diversas razões, nos países desenvolvidos . Em geral, os países industrializados desperdiçam mais nas fases finais, de comercialização e consumo, já nos países em desenvolvimento as quebras se dão mais na produção, armazenamento e distribuição devido a falta de infraestrutura.
Ao mesmo tempo em que as sobras alimentares são um problema, alguns já a transformam em solução. As medidas vão das mais simples às mais inusitadas, mas todas com um propósito comum: dar um destino mais nobre a essas alimentos que a lata de lixo.
O Banco de Alimentos, organização não-governamental brasileira criou o projeto “Desperdício Gourmet” em parceria com restaurantes para incentivar o uso de das partes desprezadas dos ingredientes frescos como talos, cascas e sementes de maneira criativa pelos chefs de cozinha. Um dos pratos é oferecido gratuitamente aos clientes que ao final da refeição recebem a seguinte questão:”Um dos pratos que você comeu hoje foi feito com ingredientes que sobraram do preparo de outros pratos. Você sabe qual foi?”
A designer italiana Michela Milani levou o conceito do preparo de pratos com sobras mais ao pé da letra e literalmente seus pratinhos são confeccionados a partir de sobras e podem armazenar produtos secos. Para o descarte basta dissolvê-lo em água e usar para fertilizar o solo.
Uma alternativa tecnológica foi criada pela designer de materiais Fanny Nilsson é a Re-Feed, uma pequena máquina de compostagem, pequena o suficiente para ficar na sua cozinha, ela é ideal para receber as sobras das refeições familiares. O funcionamento é simples, basta inserir as sobras no compartimento superior e retirar o adubo formado pela composteira na parte inferior, já pronto para ser utilizado nas suas plantas ou na sua horta. Infelizmente a designer ainda não descobriu uma maneira de manter os odores da compostagem neutros, afinal não é agradável ter a cozinha mal-cheirosa sempre que abrir a máquina, mas espera-se que logo isso esteja resolvido e a Re-Feed finalmente possa finalmente fazer parte do nosso arsenal culinário.
De maior porte é o projeto colaborativo europeu liderado pelo Centro de Inovação de Processos (CPI), que visa transformar as sobras de alimentos em grafeno e hifrogênio. Estamos falando do PlusCarb, que vai “transformar o biogás gerado pela digestão anaeróbia de resíduos de alimentos através de um inovador processo de baixa energia que produz plasma de microondas para dividir o biogás (metano e dióxido de carbono) em altos valores de grafite de carbono e hidrogénio renovável.”
O processo clivagem (leia-se quebra) do carbono utilizando plasma apesar de ser bem conhecido, ainda está em teste e otimização, mas com futuro previsto para produção em escala. O projeto de três anos é co-financiado pela União Européia junto a outros oito parceiros para fortaleceras tecnologias ambientais e além de reduzir o desperdício de alimentos, vai transformá-lo em fontes de energia renováveis e sustentáveis. Além disso, com o sucesso do projeto, há potencial de geração de empregos e novos mercados a serem explorados, que são a gestão de resíduos de alimentos, alto valor do grafite e vendas de hidrogênio.
O grafeno (foto abaixo) é mais forte do que o aço, mas ao mesmo tempo é leve e é excelente condutor de eletricidade e calor. Por essas características, ele tem sido usado mas mais diversas aplicações, desde o reforço de raquetes de tênis até a construção de células solares. E foi também identificado como uma das matérias-primas economicamente críticas da Europa e de atuação estratégica no desenvolvimento de futuras tecnologias emergentes. “O mercado mundial de grafite, extraído ou sintético, vale mais de 10 bilhões de euros por ano. Hidrogênio já é usado em quantidades significativas por parte da indústria e reconhecido com grande potencial como futuro combustível de transporte para uma economia de baixo carbono.” Atualmente 95% do hidrogênio é produzido a partir de combustíveis fósseis e uma demanda crescente.
Nada disso é desculpa para descuidarmos do planejamento das compras em casa e não prestarmos atenção ao que colocamos no nosso prato, mas é um alívio ver que quando o descarte for inevitável, dias melhores virão para as sobras.
http://propmark.com.br/agencias/jwt-brasil-cria-acao-desperdicio-gourmet
http://www.adnews.com.br/publicidade/jwt-gourmetiza-sobras-de-alimentos-em-restaurantes
http://coletivominimo.com/2015/07/27/foodscapes-bowls-biodegradaveis-feitos-de-restos-de-alimento/